Diário de Bordo - Sérgio

 

10/05/2006

Hoje faz cinco meses que zarpamos de Ilhabela! Acordamos com o dia meio nublado e, após fazer os diários e tomarmos o café da manhã, o tempo melhorou um pouco. Foi ótimo pois o nosso programa para a manhã é conhecer o Pão de Açúcar, subindo até o alto de bondinho. A Carol estava louca para fazer este passeio. Fomos a pé até o bondinho e subimos. A vista é maravilhosa! Vê-se toda a baia da Guanabara e todo o lado de mar aberto. Fui mostrando para as crianças todas as ilhas por onde passamos e conseguimos ver o Fandango lá de cima. Após vermos a vista, as lojinhas e as antigas engrenagens dos bondinhos mais antigos (precisava ter coragem para entrar neles antigamente!), encontramos um grupos de uns oito sagüis super-dóceis que vieram comer na mão da Carol. Para isso, ela percebeu que eles estavam comendo umas frutinhas roxas de alguma árvore no chão e as pegou. Logo eles vieram comer na mão. Eles deram um show! Descemos e fomos almoçar num restaurante na Urca, dentro de um prédio do Exército, que tinha uma comida muito gostosa e, na seqüência, fomos direto para a Escola Naval. Lá chegando não pude entrar, pois cometi a gafe de ir de bermuda. Saímos andando muito rápido até o aeroporto para tentar comprar uma calça. Só encontramos uma calça de capoeira com a bandeira do Brasil atrás, que eu achei de muito mau gosto (era capaz de me prenderem com aquela calça! – rsrsrs). Atravessamos e fomos até o centro e lá achei um camelô com uma calça decente e que podia colocar por cima da bermuda. Voltamos e começamos a visita com uma hora e dez de atraso e faltando pouco para eles encerrarem o expediente. Mesmo assim, atrasados e com as pernas doendo, o soldado Kaslley nos recebeu muito bem, mostrou as instalações da escola, falou um pouco sobre como se tornar aluno da escola e como é a vida dos estudantes. Mostrou-nos ainda o lugar onde foi celebrada a primeira missa completa do Brasil, que fica dentro da escola e passamos num corredor com grossas portas de madeira, que era uma prisão antigamente. Outra curiosidade é que a Escola Naval do Rio de Janeiro foi a primeira escola de ensino superior do Brasil. Vimos os belos veleiros da Escola Naval que competem e encerramos nossa visita. Pegamos um táxi e seguimos para o Iate Clube, passando antes na lavanderia para pegar as roupas que eu tinha deixado para lavar. Chegamos no clube em cima da hora para pegar o barco para o Rio-Boat. Deixei as roupas com o rapaz que toma conta das toalhas no banheiro e saímos correndo para o Rio Boat. Chegando lá fomos ver mais alguns belos barcos em exposição e encontrei o Luiz Francisqueti de Ilhabela, o Pêra da “Pêra Náutica” (ex-BL3 da Guarapiranga), onde o Jonas conseguiu ir num simulador de vela muito legal para dar cursos e fomos comprar o nosso novo substituto do Jarbas, um GPS auxiliar novo e uma manilha de engate rápido para o cinto de segurança da Carol. Encontramos ainda o Nestor Volker e falamos rapidamente com ele. Quando já estávamos quase no horário e com tudo feito, mesmo tendo perdido as palestras, fomos até a ponta do píer dos cruzeiristas e tivemos uma surpresa: encontramos o Ricardo e a Glória do “Tao”. Que encontro gostoso! Eles estão bem, o Ricardo me mostrou uma queimadura na mão provocada por lançamento de álcool fazendo um churrasco a bordo (coisa que eu tenho que tomar muito cuidado também) e conversamos bastante no tempo curto que tínhamos para pegar o barco de volta ao Iate Clube. Conhecemos ainda o Marçal e a Eneida Ceccon do Rapunzel, que estavam falando com o Ricardo. Corremos, pegamos o barco de volta já saindo e chegamos no clube muito cansados. Tentei falar com a Lu por Skype, mas a ligação estava muito ruim e falamos pouco. Fizemos uma sopa a bordo e fomos dormir muito esgotados sem arrumar nada.

 

11/05/2006

O dia amanheceu um pouco nublado, mas melhor que ontem. Acordei cedo e coloquei meu diário e e-mail’s em dia. Só não consegui transmiti-los por causa de um programa anti-spam que me trava por algum tempo depois que envio os e-mail’s de atualização do site. Acordei as crianças e aproveitamos para fazer uma série de coisas no barco. Testei o GPS, instalei o piloto automático novo, arrumei a tampa da geladeira do barco, que deu um trabalhão, com a ajuda do Jonas, tomamos café, limpamos e demos uma ordem no Fandango, etc. Quando fomos à terra, tomamos um banho rápido e esperamos o nosso amigo Guido, que nasceu na Argentina e se apaixonou pelo Brasil e aqui veio morar, que conhecemos em Jurumirim. Ele nos pegou e nos levou para almoçar no Museu de Arte Moderna com a Priscila, que trabalha lá. Os dois também tem o sonho de um dia poder sair viajando pelo mundo de barco. Conversamos muito durante o almoço, falando bastante da viagem e eles deixaram uma mensagem em nosso livro de visitas. Os dois são muito simpáticos e adoram mar. Aproveitamos e fomos conhecer o museu. Vimos as exposições de Eduardo Frota e a de Roy Lichtenstein, muito interessantes (ainda fomos presenteados com livros sobre as duas exposições pela Priscila). Ainda fomos ver um trabalho de outro artista, que não me recordo o nome, que é uma parede branca cheia de baratas de plástico coladas. O Guido fechou os olhos da Carol e eu os do Jonas. A Carol, mais esperta, não chegou muito perto antes de abrir os olhos. O Jonas foi até pertinho da parede e quando eu tirei a mão de seus olhos, tomou um ligeiro susto, mas se recuperou rápido. Demos boas risadas e seguimos para o carro continuar o passeio. O objetivo final era o Cristo Redentor. Saímos e em pouco tempo estávamos no meio da vegetação, subindo uma serra cheia de curvas, onde em cada uma delas vislumbrávamos lindas paisagens do Rio. Chegamos à Vista Chinesa e paramos para fotografar. Belíssima paisagem! Continuamos subindo, aproveitando para conversar sobre as mais variadas coisas. Passamos pela filmagem de uma novela e logo chegamos a outro mirante, maravilhoso também. Um pouco mais e chegamos no Cristo Redentor. Estava ventando muito e subimos pelas escadas, aproveitando a vista em cada curva. Quando chegamos no Cristo, a vista era impressionante! Trezentos e sessenta graus de vista aérea do maravilhoso Rio de Janeiro, que é um cartão postal! Reconhecemos as ilhas por que passamos (Tijucas e Cagarras), Iate Clube do Rio (o Jonas jura ter visto o Fandango lá de cima!), Maracanã, Ponte Rio-Niterói, etc. Fantástica a vista. Havia muitos turistas estrangeiros, vendo e fotografando, e nós brigamos por um espaço para bater fotos, mesmo com a máquina fotográfica dando problemas por causa da bateria. A visão do Cristo é impressionante! Sentimo-nos minúsculos aos pés Dele. Lindíssimo é ver as nuvens passando atrás e por cima dele, dando-nos a impressão que está se movendo em nossa direção. Não sei se o artista tinha essas intenções ao projetar o Cristo mas, sem dúvida, foi uma das visões mais impressionantes que tive até hoje. Pena que as crianças estavam sentindo frio e tivemos que descer logo. Saindo de lá, continuamos conversando no caminho e seguimos para a casa do Guido, onde tomamos um lanche com um bolo delicioso e vimos a linda vista que ele tem da Lagoa Rodrigo de Freitas. Essa proximidade da natureza que o Rio tem e de suas belezas naturais e praias, torna muito agradável se morar nele. O Guido emprestou dois filmes para as crianças assistirem no barco: “A Marcha do Imperador” e “Winged Migration”. Retornamos à marina com as crianças (as três crianças! – rsrsrs) loucas para ver os filmes. Fomos logo para o barco, colocamos os CD’s e adoramos os filmes. O engraçado sobre o filme dos pingüins é que, há pouco tempo, vimos um documentário sobre as focas-leopardo, o principal predador dos pingüins. Dormimos sonhando com pingüins e com pássaros, depois de curtir um dia inteiro a hospitalidade Argentina no Rio de Janeiro.

 

12/05/2006

Como o dia não estava grande coisa, tirei para fazer vários trabalhos: digitei os diários atrasados, abastecemos o barco de água e diesel no píer do clube, chamei um rapaz (o Manoel) para subir no mastro e trocar as lâmpadas de luz de tope e luz de cruzeta, que estavam queimadas. As crianças responderam os e-mail’s e depois saímos para dar uma passeada. Sem conhecer o lugar fomos parar num shopping que não tinha mais nada por perto e acabamos comendo num bistrô dentro de uma livraria. Resultado: caro, pouca comida e não estava lá grande coisa. Retornamos ao clube com garoa na cabeça. Consegui agendar as visitas aos navios de superfície da Marinha e, com isso, organizar os nossos próximos dias no Rio. Retornando ao clube, tomamos um banho e ficamos esperando o Marcelo Dias, que nos convidou para o clube, mas infelizmente ele teve um problema e marcamos de nos encontrar amanhã. Encontramos novamente com o Bira da RayMarine no clube e também com o Gabriel Borgstrom de Ilhabela, nosso amigo de lá. Ficamos muito contentes sabendo que ele e a Cielo são pais “frescos”, detalhes divertidos do parto (foi em casa, na banheira e com as antigas amigas do coral cantando “Hani Cuni”) e que tudo está indo muito bem. PARABÉNS!!! Retornamos ao barco onde fizemos um jantarzinho e, após falar com a Lu por Skype, dormimos.

 

13/05/2006

Acordei bem cedo, com muitas coisas para fazer. Após fazer o diário, fui trocar o óleo de motor, o filtro de óleo e o filtro de diesel. Consegui fazer tudo sem fazer muita sujeira (o que não é fácil!). Aproveitei para mostrar e explicar ao Jonas como fazer isso e os princípios de funcionamento de um motor. Encerrado o trabalho, pensamos em dar um pulo nas praias, mas o tempo estava feio. Seguimos então para o supermercado e fizemos as compras necessárias ao barco para seguir viagem e aproveitei para cortar o meu cabelo no clube. Retornamos ao clube de táxi para transportar as compras e as deixamos no barco. Saímos então rapidamente para ir fazer a visita ao navio capitânia da Marinha do Brasil: o Porta-Aviões São Paulo. Uma palavra resume a visita: FAN-TÁS-TI-CO!!! Chegamos ao lado do navio e já estavam nos esperando no alto da escada. Ficamos impressionadíssimos com as dimensões de tudo só olhando de baixo. Subimos e fomos conduzidos pelos espaçosos corredores do navio, passando por muitas portas abertas daquelas que lacram a passagem, até uma sala grande e confortável, com um aquário e uma grande televisão. Esperamos um pouco e logo chegou o Tenente De Paula que nos mostraria o navio. Muito simpático, nos presenteou com bonés e falou um pouco sobre as dimensões principais do navio: 266 metros de comprimento, 9,5 metros de calado, mais de sessenta metros de altura acima da linha d’água até o alto da torre principal, boca de mais de 50 metros! Outros detalhes interessantes são que apenas 11 marinhas do mundo tem porta-aviões. Dessas, apenas 3 delas tem aviões lançados por catapultas, que é o caso do Porta-Aviões São Paulo. As outras, os aviões são daqueles especiais que sobem verticalmente. Quando em operação, leva duas mil pessoas em seu interior. Fico imaginando o trabalho de logística para abastecer esse barco para uma viagem! Deve ser uma loucura. Como engenheiro fiquei admirando a impressionante obra-prima de engenharia naval e mecânica: os imensos elevadores para subir e descer os aviões e helicópteros até o hangar (que é um andar inteiro separado); as catapultas, que são grandes “estilingues” para lançar os aviões de mais de 10 toneladas; um fortíssimo guindaste móvel que pega qualquer equipamento que esteja interrompendo a pista e o leva para onde quiser; o próprio navio, com suas dimensões absurdamente grandes e milhares de cabos, tubulações e conexões, todas de fácil acesso e identificadas, que deve deixar maluco qualquer engenheiro de manutenção. Foi muito legal ver a preocupação com a organização e segurança a bordo. Existem equipamentos de segurança espalhados por todo o navio e verdadeiras baterias de combate a incêndio nos lugares principais, onde podem ocorrer incêndios. Vários cartazes de segurança estavam espalhados por todo o navio, me lembrando uma fábrica. Realmente, impressionante. Começamos a visita sendo levados à Praça D’Armas, ou restaurante. Ele tem esse nome porque as pessoas não podiam entrar armadas nesse local e deixavam as armas na entrada. Daí veio a denominação “Praça D’Armas”, muito antiga, mas até hoje usada (tradição é uma coisa que não se esquece na Marinha). Engraçado foi ver a figura de Obelix com as cores do Brasil (Obelix era o símbolo do navio na França, onde ele foi construído, e há um engraçado desenho de Obelix de pé em cima do porta-aviões arremessando aviões de papel). Logo depois subimos alguns andares e entramos no hangar. Não havia nenhuma aeronave no local o que aumentou ainda mais a impressão de grandes espaços. Logo duas tabelas de basquete chamaram a atenção do Jonas e nosso anfitrião explicou que também jogavam futebol e faziam outros esportes ali dentro. Desse hangar, dois elevadores imensos sobem os aviões para decolagem. Portanto, o próximo ponto de visitação foi a pista de pouso e decolagem. Quando chegamos lá, descortinou-se uma maravilhosa vista da baía da Guanabara, vista “de cima”. Passou um petroleiro perto e foi engraçado saber que eu estava embarcado e vendo-o de cima. Vimos alguns barcos de cruzeiro velejando pela baia e passou perto de nós um veleiro de quase 40 pés admirando o navio de baixo. O tenente foi explicando e mostrando cada item importante: como param os aviões que descem (ele brincou dizendo que, na verdade, eles são um grande gancho onde colocaram um avião por fora), pegando cabos que ficam na pista e que seguram o avião; grandes painéis defletores do jato do avião que são levantados atrás dele; buracos gradeados no chão, que são usados para amarrar tudo que estiver solto (aviões, helicópteros, etc.) enquanto se navega. Aproveitamos e ele tirou uma foto para nós na pista (não é permitido para civis tirar fotos do navio por motivos óbvios, mas existem sites que tem algumas as fotos liberadas pela Marinha para divulgação). Subimos para o passadiço ou ponte de comando. Dezenas de instrumentos de navegação e também de uma torre de controle de aviões disputavam espaço no local. Sim, o navio tem que ter uma torre de controle de pouso e decolagem, pois é um aeroporto também (o tenente brincou, dizendo que o navio é “não é uma pequena cidade, mas sim uma grande cidade pois tem até aeroporto”). Achei engraçado também é que o timoneiro do navio fica “cego”, ou seja, não tem visão nenhuma do que está acontecendo, apenas segue ordens de que direção seguir, dada por quem está comandando o navio num grande tubo acústico. Na seqüência fomos na sala do COC (Comando de Operações de Combate) e vimos as várias mesas que controlam todo o navio em situação de combate (como o tenente disse, o “cérebro do navio”). Diversos instrumentos, controlando o céu, a superfície do mar e as suas profundezas, estavam organizados ali, coisa que só vimos em filmes. Pena que o tempo era pouco para ver mais coisas mas, segundo o comandante Américo, que agendou para nós a visita, poderíamos ficar uma semana andando pelo navio e não conheceríamos tudo. Mas, novamente, fiquei impressionadíssimo com a instituição Marinha do Brasil pela organização, cuidado e seriedade com que trabalham os seus homens, além da qualidade dos equipamentos. Retornamos para o clube felizes e admirados com tudo o que vimos e fomos cortar o cabelo do Jonas. Almo-jantamos e ficamos esperando o Marcelo, que nos convidou para ficarmos no clube. Pena que não pudemos conversar muito, mas foi ótimo conhecê-lo. Encontrei ainda o Gabriel e o Valter, ex-dono do Azular. Contei sobre a viagem e mandamos beijos para as mães Regina e Cielo, junto com os parabéns pelo dia das Mães que será amanhã. Retornamos ao barco, pois estava muito frio, lemos um pouco do “Rio à Polinésia” e fomos dormir cedo.

 

14/05/2006

Acordei assim que amanheceu, logo fiz as obrigações e arrumei o barco para sairmos. Hoje é dia de conhecer a famosa ilha do Paquetá. Fui até o clube, fechei nossa conta e aproveitei para elogiar o serviço de taxi-boat do clube. Foi sem dúvida o melhor que vi até hoje! Sempre esperamos muito pouco e os rapazes que fazem o transporte foram sempre muito atenciosos. Junte ótimo serviço, ótima localização e ótima estrutura e aí está um dos melhores (senão o melhor) clube náutico do país. Retornamos ao barco, içamos vela e às 9:00 hs saímos para a ilha do Paquetá, deixando para trás o Pão-de-Açúcar, o Cristo Redentor e a lindíssima enseada de Botafogo. Batizamos o nosso novo piloto automático com o nome Alfredo (Jarbas está de quarentena e irá para a assistência técnica assim que eu puder enviá-lo). Fomos velejando pela linda baia, infelizmente maculada pela sujeira ao longo dela toda. Fomos nos encaminhando para o fundo dela, passando embaixo da imensa ponte Rio-Niterói (outra maravilhosa obra de engenharia) e fazendo a navegação com muito cuidado, pois há muitas pedras no local. Chegamos à ilha as 11:30 hs, tendo velejado o tempo todo. Encostamos o barco no píer e fomos até a secretaria. Nos apresentamos e não nos exigiram nada de documentos. Somente nos disseram para nos sentir a vontade no clube e aproveitar bem a ilha. Fizemos um almoço e logo após saímos para passear pelo local. Fomos até o píer das balsas, que é ao lado do clube e então pegamos uma charrete (na ilha não trafegam veículos automotores). O Guilherme, dono da charrete nos levou por um passeio de uma hora mostrando todos os lugares bonitos. Passamos por um parque bem bonito, pela praia da Moreninha (do livro de Joaquim Manoel de Macedo), casa de José Bonifácio e outros lugares famosos e bonitos da ilha. Como as crianças leram o livro e este se passa numa outra época muito romântica, talvez tenham estranhado e se decepcionado com algumas coisas. Fiz questão de frisar que já se passaram muitos anos depois dele escrito. Mas a ilha é muito bonita e vale a pena ser visitada. Poderia estar melhor conservada e a baia onde ela se encontra deveria ser mais limpa, mas mesmo assim valeu muito a visita: realizei um sonho de criança meu. Depois pegamos uma bicicleta e fomos pedalar pela ilha. Este é o melhor método de conhecê-la. Uma bicicleta pelo dia inteiro custa R$ 8,00 e você pode andar com ela por toda a ilha facilmente em um dia. Existem folhetos à venda com o mapa da ilha e todos os pontos turísticos. Comprei algumas coisas, fomos para o barco, fizemos o jantar e fomos ao banho. A marina só tem chuveiros gelados, mas o banho frio foi revigorante. No barco lemos os trechos que mais gostamos da “Moreninha”, lemos “Do Rio à Polinésia” e fomos dormir exaustos.

 

15/05/2006

De manhã bem cedo comecei a sentir umas pancadinhas no barco. Levantei e vi que a maré estava muito baixa. Olhei a tábua de marés e vi que ainda ia baixar mais. Tentei mover o barco com a mão e o senti quase encalhado e batendo de leve em algo quando ia para a frente. Era hora de tirar o barco dali. Chamei as crianças, liguei o motor, puxei o barco para trás com as mãos, na direção contrária de onde havia sentido algo batendo e saímos livres. Afastei-o lentamente no motor e ancoramos na frente do clube. Aproveitando estarmos todos acordados, enchi o bote enquanto o Jonas fazia o café. Estávamos todos animados, pois iríamos conhecer a Fragata União da Marinha Brasileira. Depois de tudo o que vimos até agora da Marinha, sabíamos que teríamos muito para ver. Descemos do barco, liguei para o oficial de serviço para confirmar nosso horário de chegada e pegamos a balsa para o Rio. A viagem dura uma hora e é bonita, principalmente a saída de Paquetá e a chegada no Rio. Chegando lá, passamos perto do Porta-Aviões São Paulo e da Ilha Fiscal (aliás, o porta-aviões é muito maior do que a própria ilha). Pegamos um táxi e quando chegamos na fragata já nos esperavam. Logo nos levaram à Praça D’Armas onde conhecemos o Tenente Hideki, que nos guiaria na visita. Muito simpático e também velejador, não faltou assunto para nós! Profundo conhecedor do navio, logo nos levou para a sala de operações de combate da fragata, onde ficamos surpresos: os equipamentos eram moderníssimos! Ele foi nos mostrando cada um deles e explicando suas funções. Mostrou como é feita a comunicação na sala, através de fones de ouvido e microfones e foi nos contando vários detalhes de operações de guerra e treinamento da fragata. Foi uma aula de teoria de guerra naval, falando como evitar “fogo amigo”, identificação de inimigos e contando casos como o da Marinha Americana que derrubou um avião de passageiros por engano. O que as crianças mais gostaram foi uma câmera infravermelha ligada a um dos canhões, que permitia visualizar um alvo à distância, mesmo no escuro ou sob cerração. A visão era perfeita e igual ao que eu vi na televisão na guerra do Golfo, como um dos armamentos mais avançados dos EUA. Motivo de orgulho para nós brasileiros: o conjunto de softwares que comanda as operações de combate foi todo desenvolvido no Brasil e é moderníssimo, de altíssima eficiência e facilidade de uso, o que é importantíssimo para uma ação rápida e precisa. Lição para as crianças: todos os botões principais e de disparo eram protegidos para evitar acidentes e também vários botões para interromper ações de disparo existiam espalhados. Depois fomos andando pelo navio e vimos os canhões, todos automáticos, o disparador de mísseis exocet e o passadiço (ponte de comando). Lá falamos de navegação astronômica, que eles treinam em todas as saídas e vimos toda a aparelhagem ultra-moderna de navegação da fragata. As crianças entraram em um dos canhões (todos são automáticos, mas tem um comando manual também) e gostaram muito. Conversamos bastante sobre ninguém querer a guerra, mas ser preciso estar bem armado e treinado para evitá-la (é como nossa casa: se estiver desprotegida, a chance de alguém querer invadi-la é grande) e para isso servem as Forças Armadas. Vimos ainda o heliponto e hangar do helicóptero, muitos equipamentos e cartazes de segurança como no Porta-Aviões São Paulo e as baterias anti-aéreas. Falamos ainda de velejadas e contamos casos de regatas (o tenente comandou o Brekelé, veleiro da escola naval e também velejava com um Ranger 22 da escola, que foi meu primeiro barco). Acabamos a visita conhecendo o Comandante Pixinine, que foi muito simpático conosco e que também havia velejado na época de escola naval. Ele conhecera a família Schurmann na comemoração dos 500 anos e, por coincidência, socorreu um amigo nosso, o Clauberto, que teve um problema com o mastro do veleiro Blue Label num retorno a Ilhabela depois de uma regata Santos-Rio. Imaginem uma grande fragata da Marinha, com quase trezentos homens querendo chegar em casa, fazer meia-volta para acompanhar um pequeno veleiro a um porto seguro e vocês entenderão o que é a gentileza, cuidado e respeito característicos dos verdadeiros homens do mar! O Comandante nos presenteou com bonés, uma linda camisa com o nome do navio e com essas atitudes que tranqüilizam quem navega. Falamos um pouco da nossa viagem e planos e recebemos os votos de boa sorte. Adorei a visita e, quando acho que a Marinha do Brasil não tem mais como me surpreender, vejo que estou sempre errado. Até agora visitamos uma ilha, super bem cuidada e preservada, uma escola do mais alto nível e dois navios de superfície, que são verdadeiras cidades, fantásticos! O que mais me alegra é que, o que faz tudo isso tão especial, é o elemento humano por trás de tudo: feliz, consciente de seu dever, educado, cuidadoso, responsável e que o faz com o sentimento traduzido nas palavras do Comandante Pixinine: “Sou apenas um fiel depositário do navio, que é do povo brasileiro”. Quem dera os políticos tivessem essas qualidades para a gestão dos bens públicos que estão em suas mãos. Nos despedimos e fomos para pegar a balsa para retornar ao Fandanguinho, que ficou em Paquetá. No caminho de volta, paradoxalmente à nossa visita, tive que tentar explicar para as crianças tudo que estava acontecendo em São Paulo no dia de ontem e hoje, com o crime organizado dominando, muita gente morta (sendo a maioria policiais), como bandidos tem “direitos humanos” e carcereiros que estavam sendo torturados e assassinados pendurados pelos pés não o tem, como saúde, segurança e educação foram relegadas a segundo plano pelos nossos governantes há muitos anos gerando a situação atual e como a corrupção de nossos políticos tem contribuído para isso (como explicar “mensalão” para eles e, principalmente, a impunidade que todos, políticos e bandidos, tem no nosso país?). Desculpem o desabafo, mas realmente, o Brasil é MUITO paradoxal. Resta confiar nos bons exemplos, que são muitos e torcer para que a gerações futuras saibam eleger seus representantes levando em conta suas aptidões, qualidades, honestidade e caráter. Aos demais, que caiam no ostracismo, mas sem serem esquecidos, pois precisamos aprender sempre, mesmo com os exemplos negativos. Chegamos no barco, as crianças jantaram e dormiram rapidamente seus sonos de inocência. Eu, ainda fiquei um bom tempo acordado.

 

16/05/2006

Logo que eu e o Jonas acordamos, ficamos esperando a Carol acordar. Assim que ela deu sinal de vida, demos os parabéns pelo seu décimo-primeiro aniversário. Fizemos um café caprichado e descemos para passear um pouco pela Ilha do Paquetá. Aproveitamos os últimos momentos na ilha, passamos para comprar um pão de forma e demos adeus e agradecemos a atenção do pessoal do Paquetá Iate Clube, onde nos sentimos realmente em casa. Motoramos pela baia da Guanabara, pois não havia vento e nos dirigimos ao Clube Naval Charitas. Encostamos ao lado do veleiro Flame, do casal Paul e Diane. Conversamos um pouco com nosso pobre inglês e seguimos para a secretaria dar entrada do barco. Aproveitamos o restaurante do clube, que tem comida boa e barata e fizemos um almoço de comemoração para a Carol. No retorno ao barco, a Diane chamou a Carol e lhe deu um presente de aniversário. Ela ficou toda contente! As crianças foram brincar no clube e eu fiquei trabalhando no site, pois estou ansioso para atualizá-lo e contar tudo o que vimos. No retorno das crianças comemoramos novamente o aniversário da Carol e, após responder e-mail’s, fomos dormir cansados.

 

17/05/2006

Acordamos cedo, fizemos nossas obrigações, coloquei os diários no ar e saímos para conhecer melhor o clube. Fomos até as piscinas, que são muito boas, as crianças brincaram no escorrega de uma delas e depois jogaram um pouco no salão de jogos. O clube tem ótimas instalações e o único “senão” são as barcas rápidas que trabalham perto do clube e causam uma agitação danada nos barcos amarrados. Nós estamos atracados no píer, mas temos que ficar bem distantes dele e, para sair, pulamos no botinho e escalamos o atracadouro. Saímos a pé para conhecer as imediações e andamos bastante pelo calçadão. Niterói é muito agradável e parece ser muito tranqüila. Demos um passeio muito agradável. Resolvemos ir conhecer a bela Fortaleza Santa Cruz da Barra, atualmente sob responsabilidade do Exército do Brasil, e para isso tivemos que pegar um táxi. O Leon, nosso motorista, aproveitou para visitá-lo também. A fortaleza é maravilhosa e está em perfeito estado de conservação e tem uma vista incrível para todos os lados. A primeira instalação de canhões no local data do ano de 1.555. A impressão que temos é que os canhões (e existem muitos!) podem sair disparando a qualquer momento. Ele é monumental e todo construído com grandes pedras. O guia nos contou que as pedras foram cortadas em Portugal, numeradas e montadas quando chegaram na fortaleza. Elas vieram nos porões dos navios portugueses como lastro e aqui descarregadas. Foi usada mão-de-obra indígena e escrava para a construção. Uma curiosidade é que a capela foi construída com uma janela com vista para o mar, que só o padre via. Quando era realizada a missa, o padre ficava de olho no mar e, se via um inimigo, avisava os soldados da missa que saiam correndo para atirar nele. Vimos a prisões para piratas e corsários e nos foi contado o tratamento dado a esses invasores. Além da prisão e tortura, a morte sempre os esperava no final. Saímos da fortaleza e seguimos para o Parque da Cidade, um local de 270 metros de altura que é pista de decolagem de para-pente. A vista lá também é maravilhosa, tanto que estavam gravando um clipe da Ana Carolina no local. Via-se toda a baia da Guanabara, até a Ilha do Paquetá e, do lado de mar aberto, todas as ilhas oceânicas. Retornamos ao clube, brincamos mais um pouco e jantamos na lanchonete um excelente prato “veleiro” (grande, bom e barato). Quem passar pelo Charitas, não deixe de pedir uma refeição “veleiro” no restaurante ou lanchonete: arroz, feijão, salada, batatas fritas e um belo ovo “velejando” sobre um suculento bife. Enquanto jantávamos, vimos o Barça ser campeão em cima do Arsenal. Como estava ventando muito e esfriando, voltamos para o barco, onde as crianças estudaram, e então vimos um capítulo do “Perdidos no Espaço” antes de dormir.

 

18/05/2006

Tentei acordar tarde, pois provavelmente teríamos uma travessia na parte da noite, mas não consegui. Levantei, fiz algumas coisas e deixei as crianças dormirem tudo que queriam. Quando elas levantaram, adiantamos algumas coisas para zarpar e então tiramos a tarde para aproveitar a piscina. Descansei, as crianças aproveitaram para brincar bastante e nadamos. Fui ver a previsão de tempo do clube e batia com a que tinha tirado no computador: ventos de nordeste de, no máximo, 12 nós e mar não muito grosso. Isso daria uma orça gostosa até Arraial do Cabo, já que teríamos que seguir leste puro para chegar lá. Fechei a conta na secretaria do clube e fomos almoçar antes de soltar as amarras. Encontramos então a Suzi, do Samba, que convidou-nos para dar um pulo no barco para conversarmos. Eu estava com pressa, para aproveitar a saída da barra de dia, mas não podíamos deixar de conhecê-los melhor. Ela e o Renato nos receberam super bem e conversamos um pouco. Eles nos contaram que vivem em barco há quase 28 anos! Mostraram-nos seu livro de visitas (que já está no segundo volume quase completo, apesar de terem começado a fazê-lo somente na Austrália!) onde encontramos vários conhecidos: Valter e Regina do Azular, André e Rosanne do Magia entre outros. Conversamos sobre um amigo comum: o Zé Paulo. Foram várias as pessoas no Rio que me perguntaram como ele e a família estavam. Após deixarmos nossa mensagem no livro de visitas deles e eles escreverem no nosso, fomos para o barco. Despedimos dos simpáticos Paul e Diane do Flame, que disseram estarem pensando em ir até Ilhabela, arrumamos algumas coisas e soltamos as amarras: eram 17:30 hs e fazia um lindo pôr-de-sol. O resto das coisinhas que precisavam ser arrumadas, fomos fazendo no início do caminho (até uma sopa para colocar numa garrafa térmica, que as crianças estavam loucas para experimentar velejando). Assim que anoiteceu fizemos o segundo rizo na mestra, como sempre faço à noite. Usei uma hora e meia de motor até passarmos as ilhas do Pai e da Mãe, com um ventinho fraco, mas que ajudava bastante o andamento. Desliguei o motor começamos uma gostosa velejada. O Renato havia me dito que o melhor caminho seria junto à costa, para evitar correnteza e ondas. Eu tive que escolher: motorar com o vento na cara junto à costa ou seguir velejando um pouco fora do rumo, pois o vento era leste na cara. Optei, é claro, pela velejada. O começo foi muito bom, mas, aos poucos o vento foi apertando e, o previsto de 12 nós virou 25 ou mais. Recolhi um pouco de genoa (“santo” enrolador!) e seguimos velejando. Percebi que muitos navios passavam mais para fora do que nós sempre em direção ao Rio e outros navios passavam bem aterrados em direção à Cabo Frio. Como estávamos no meio, não precisamos nos preocupar em momento algum em desviar deles, o que foi bom, pois tenho “alergia” a navios! O mar crescia, o vento não dava trégua e as ondas cobriam a proa do Fandango até o dog-house que nos protegia (bendita hora a que mandei fazê-lo – obrigado Clauberto!). Mesmo assim, muitas vezes elas nos acertavam no cock-pit! Dentro da cabine virou um caos. Mesmo guardadas, várias coisas saíram do seu lugar e os livros da estante, presos com um elástico forte e apertados uns contra os outros, resolveram sair voando. Tive que entrar dentro da cabine logo e pegá-los, antes que molhassem. A gaiuta do salão, que não fecha bem, causava uma ducha dentro do barco a cada onda que lavava o convés. Meu caderno de anotações encharcou e duas cartas náuticas saíram respingadas, junto com a roupa seca que tinha acabado de trocar após levar um banho no cockpit. A noite foi passando, a situação estava dura, mas nos encaminhávamos para o objetivo. Pensei em retornar e ancorar nas Maricás, mas me sentia mais seguro velejando daquele jeito do que ancorado num lugar que não conhecia. Eu e o Jonas vimos algo muito interessante: luzes piscantes no céu, com milhares de luzes coloridas de vermelho e azul por baixo, como se estivessem penduradas. Pareciam fogos de artifício, mas muito alto no céu e em cima do mar. Imaginei tratar-se de algum avião despejando combustível que, por algum motivo, reluzia no céu (não sei se entrava em combustão ou algo assim). Talvez se parecesse um pouco com aqueles balões enormes cheios de lanterninhas (mas com certeza não era isso). Entrei e liguei o anemômetro, que marcava 23 nós de vento.

 

19/05/2006

A noite foi passando, eu esperando o vento diminuir ou virar para o nordeste previsto, mas nada disso aconteceu. De madrugada o vento apertou ainda mais e tive que reduzir mais a genoa. Mesmo assim, com mar contra e orçando bastante, o barco parecia voar. Os bordos eram sempre dados com muito cuidado, folgando a mestra e puxando-a para o meio, deixando cabos e manicaca preparados e então efetuando a manobra. O medo maior era alguma coisa quebrar, mas o Fandango seguia firme e forte no seu rumo. A Carol dormiu um bocado dentro do barco, mas, quando fizemos o primeiro bordo, ela se sentiu “amassada” pelas malas e, ao invés de mudar de posição, resolveu sair. Resultado: enjoou. Quando foi no banheiro, com tudo balançando, novamente enjoou. Ir ao banheiro com o barco andando já é ruim, daquele jeito então é o maior sufoco. Eu e o Jonas usamos como “banheiro” em travessias uma garrafa da água vazia (ficar pendurado para usar o “banheiro externo” pode ser perigoso se está balançando muito). A Carol “deitou cargas ao mar” umas três ou quatro vezes, mas não deixou o moral cair e estava sempre sorridente e disposta a fazer tudo que precisava. Os dois, com medo de enjoarem, ficaram no cockpit comigo, deitados no meu colo. O “Alfredo” (lembram que batizamos nosso novo piloto automático com esse nome) levava o barco com segurança e em momento nenhum saiu do rumo. Quando o Jonas estava caindo de sono, criou coragem para ir para a cama dele e dormiu profundamente até amanhecer. A Carol ficou comigo e, um pouco antes do sol sair, o vento, que havia melhorado um pouco, apertou novamente. O sol nasceu num céu totalmente azul e foi recebido com muita alegria e alívio. O mar continuava grosso e o vento forte. Conforme o sol foi subindo, seu calor foi esquentando nossas roupas geladas, trazendo uma gostosa sensação de conforto. Liguei o motor para carregar as baterias e o mantive ligado por uma hora e meia, ajudando o andamento. Às 8:00 hs já víamos a ilha de Cabo Frio, mesmo longe. Quando nos aproximamos da ilha, o vento girou para o nordeste prometido. E quando faltavam 4 milhas para chegarmos, ele atingiu os 12 nós prometidos. Parece ironia! Nessa gostosa velejada, fizemos nosso café da manhã com uma colomba pascal e um ovo de chocolate e abri toda a genoa, mantendo a mestra rizada, pois o barco estava andando bem e pouco inclinado. Entramos pelo boqueirão da Ilha de Cabo Frio, que é um lugar belíssimo. Vimos uma praia linda com uma duna de areia do lado protegido da Ilha de Cabo Frio e as rebentações que a carta prometia logo à frente. Eu pensava em parar e dormir logo que passasse o boqueirão, virando a direita, mas o local não me pareceu abrigado de nordeste. Outra opção que haviam me falado era a praia do Forno. Nos encaminhamos para lá, mas antes tínhamos que cruzar as rebentações. Como são bancos de areia, eles não se encontram mais no lugar que a carta mostra, mas lembrei das instruções do Dimitri: seguir reto após passar o boqueirão até uma ponta da Ilha de Cabo Frio, encostar bem nela e ir seguindo seu contorno, bem junto da ilha. Com o coração na mão, mas a boa visibilidade e o sol ajudando, fomos identificando os lugares mais profundos pela cor da água, com as crianças ajudando e falando que conseguiam ver os “montinhos de areia no fundo do mar”. Passado o perigo, seguimos para a praia do Forno, que parece ser muito bonita, mas não descemos. Ancoramos às 13:30 hs, depois de 20 horas de travessia, sendo 5 horas com motor e vela e as restantes velejando no contravento. Nada quebrado, moral alto pela chegada e as perdas se limitaram ao meu caderninho de anotações. Barco e tripulação estão de parabéns, pois essa foi a pior travessia que eu já fiz até hoje! Eu estava muito cansado, pois não dormi nem um minuto, então colocamos as coisas para secar ao sol. Com as crianças contentes e cantando, comemos a sopa que ninguém conseguiu comer durante a noite e deitei para dormir. Enquanto dormia, eles viram gaivotas que vieram comer ao lado do barco pedaços de queijo que eles jogavam. Após eu dormir 2 horas e meia, levantamos âncora para ir até Arraial do Cabo telefonar, pois não havia sinal de celular na praia do Forno. Saindo um pouco da praia, o sinal apareceu e pudemos avisar que chegamos bem. Retornamos ao ponto de ancoragem inicial, arrumamos o barco (tirei tudo da mesa de navegação pois até lá entrou água), fizemos diário e comemos um delicioso risoto de frango com ovos fritos. Após a comida quente, com um chocolate de sobremesa, o sono bateu cedo em todos e fui dormir escutando o nordeste “lestado” ainda soprar forte lá fora, com a nítida impressão, causada pelo cansaço, que toda a travessia havia sido um sonho.

 

20/05/2006

Acordamos cedo e a primeira coisa que fiz foi tomar um banho de mar. A água não estava tão fria quanto o “Cabo Frio” prometia. Ele tem esse nome porque é uma zona de ressurgência de águas que vem das Malvinas. Exatamente por isso suas águas são frias e há muitos peixes. Logo coloquei tudo para secar ao lindo sol que fazia novamente. Fomos até a praia do forno com o bote, aproveitando para testar o motor de popa que estava há muito tempo parado. A praia é maravilhosa! Uma das mais bonitas que encontramos até hoje. Areia fina, branca e solta, daquela que faz “barulho” quando a gente anda. Há pouquíssimas construções na praia, que está bastante preservada. Vimos muitas gaivotas pousadas na beirada do mar e sobre os restos de um navio que repousa na bem próximo à praia. A água é transparente e fica com um lindo tom azul claro quando as pequenas ondas quebram. As crianças estranharam a vegetação cheia de cactus, que dá a impressão de lugar que chove pouco. Numa ponta da praia, vi um caminho subindo o morro e perguntei para uma pessoa onde iria dar. Falou que era curto e dava em Arraial do Cabo. Logo estávamos subindo o caminho, quase todo calçado de pedra mineira (aquela de colocar em volta de piscinas) e foi se descortinando uma linda vista alta da praia, deixando-a mais bonita ainda. Fomos subindo e fui fotografando, até chegarmos ao alto e começarmos a descer. Então vimos a cidade de Arraial do Cabo e o porto. Nele vi um veleiro conhecido, o Moara de Ubatuba e um submarino. Voltamos para a praia e aproveitamos bastante: eu descansando e as crianças brincando construindo um belíssimo forte de areia (a visita à Fortaleza de Santa Cruz da Barra mudou o conceito deles de castelo de areia!). Depois de algumas horas curtindo a praia e com o sol já descendo, almoçamos e resolvemos ir para a praia dos Anjos, onde há um porto e que fica ao lado da praia do Forno. Chegando lá, passamos ao lado do belíssimo submarino da Marinha e vimos outro veleiro conhecido amarrado ao píer: o Tikii, também de Ubatuba. Pegamos o bote e fomos conhecer a cidade. Rumamos para o Tikii para ver se poderíamos amarrar nosso bote no veleiro. Achei estranho ele estar sem mastro e quando subimos no píer conhecemos o Edélcio, seu dono, e soubemos dos problemas que teve vindo para cá. Ele veio um dia antes que nós e pegou a lestada com tudo também. Orçando em vento muito forte por fora da ilha de Cabo Frio, não conseguia avançar e, enquanto estava descansando, sentiu um tranco forte e o mastro veio abaixo, arrancando um pedaço do convés. A fixação do brandal dentro da cabine arrebentou, causando todo o estrago. Ele consegui mergulhar, cortou a vela dos sliders e conseguiu recuperar tudo, com mar mexido e muito vento ainda. Foi ligar o motor e ele não pegou. Pediu socorro pelo rádio e a Marinha, através do projeto Salvamar, providenciou tudo que ele precisava para o resgate: um barco pesqueiro foi rebocá-lo e ele foi deixado atracado no píer para poder fazer o reparo. Quando foi agradecer, novamente a resposta: “Não fizemos mais do que a nossa obrigação”. Mais um exemplo recentíssimo que nos tranqüiliza quanto a socorro em caso de necessidade e mais um “parabéns” para a Marinha do Brasil. O custo do resgate foi zero e a estadia no píer enquanto ele estiver arrumando as avarias também (gentileza do porto). Conhecemos também o Claudinei, dono do Moara, que chegando na mesma noite, foi ancorar na prainha depois de duas noites sem dormir e acabou encalhando. Na tentativa de desencalhe, um cabo estourou e arrancou uma ponta do dedo dele. Mesmo machucado continuou trabalhando no desencalhe, que foi em vão. A maré desceu, o barco ficou em seco e só foi desencalhado na próxima maré alta. Acabaram sendo três noites sem dormir. Comparando nossa travessia com a deles, fizemos um passeio! Ainda bem que eu não tentei contornar a Ilha de Cabo Frio também. Nossa opção de passar pelo boqueirão foi a que se mostrou mais acertada, apesar de eu não saber se eles teriam condições de fazer isso na noite em que vieram. Passado o susto de ambos, já estão brincando com o acontecido (os dois são muito divertidos e parecem ser gente finíssima) e planejando a próxima perna, que deve ser a mais dura da viagem. Saindo do porto para ir até a cidade, vimos cerca de cinco tartarugas comendo restos de peixes que haviam jogado do píer bem embaixo de nós. A água estava clara e a impressão que eu tinha é que estava no Tamar. Vimos um pouco as tartarugas e então fomos até a cidade, passeamos um pouco pelas tranqüilas ruas e procuramos um mercado. Retornamos então ao Fandango, para tomar uma sopa, estudar, e dormir cansados.

 

21/05/2006

Logo de manhã fui comprar isca para pescar, enquanto as crianças faziam seus diários. O dia estava maravilhoso, só que uma frente fria estava para entrar. Após tomarmos o café, fomos para perto da ilha de Cabo Frio, num lugar que me falaram ser bom para pesca. Ancoramos num local fundo bem ao lado do banco de areia do canal. Ficamos pescando um bom tempo, mas a isca ia embora rapidamente e só pegamos pequenos peixes, que acabávamos soltando. Meio desanimados com a pesca no local, levantamos âncora e fomos para a praia do Forno, onde havíamos visto um barco pescando e pegando peixes quando chegamos. Nessa hora, a frente já entrava, mas o que se via dela era um sudoeste fraco batendo e o horizonte acinzentado. Na praia do forno, ancorados bem no meio da enseada, logo começamos a pegar peixes. O Jonas pegou um sarguinho, depois pegou um carapau, a Carol tirou outro carapau, eu peguei um também e logo apareceu um cardume de cangulo (ou peixe-porco, o popular “porquinho”), todos enormes e nadando na tona da água. Era só baixar a isca e esperar algum pegar o anzol. Como nossos anzóis eram grandes, estava um pouco difícil de pegá-los, mas logo estávamos com quatro lindos porquinhos à bordo. Falei para pararmos de pescar, pois já era peixe mais que suficiente. Limpei dois porquinhos e dois carapaus na popa do barco e já os temperei, junto com o que sobrou das lulas que eu havia comprado para isca. Pegamos o motor de popa e fomos até a praia aproveitar o final do sol. As crianças fizeram um novo castelo de areia e, quando o sol se escondeu, voltamos para o barco. Tomamos nosso banho completo na popa do barco (quando o tempo está bom e quente, é muito melhor do que chuveiro elétrico) e voltamos para a praia dos Anjos. Eu havia prometido ao Edélcio e ao Claudinei que, se pegássemos bastante peixe, levaríamos alguns para eles. Chegando lá, ancoramos e logo a Carol e o Jonas pegaram o bote e foram dar os peixes, todos contentes. A Carol, que pegou o maior peixe, ficou toda cheia quando o Claudinei tirou-o do saco plástico e exclamou: “Olha o tamanho do peixe que ela pegou!”. Logo fiz o almo-janta, pois já chegava o final da tarde e não havíamos comido nada com a farra da pescaria. Fiz um risoto de lula para acompanhar o peixe frito e posso dizer que nunca fiz nada tão gostoso no barco! Comemos e então resolvemos tomar um sorvete de sobremesa. Pegamos o bote e, ao chegar ao lado do Moara, o Claudinei nos chamou a bordo para conhecermos seu barco. O Moara está muito confortável e o Claudinei teve algumas soluções muito legais para ele. Principalmente uma bela geladeira a gás e a adaptação de um bujão de 13 quilos na popa para isso. Após uma boa hora e meia de papo com ele e com o Edélcio, escutando as engraçadíssimas estórias de suas “incursões noturnas” ao longo da viagem, fomos para a cidade tomar nosso sorvete. Achamos uma pequena sorveteria e, além do sorvete, mandamos brasa no açaí. Voltamos ao barco passeando devagar e, já no barco, respondemos e-mail’s e telefonei via Skype para a Lu e para o Celso, meu irmão. Soubemos que todos estão bem, mas o Fofão, gato da Lu, vai ter que ser sacrificado amanhã. É uma pena, mas ele viveu bem e bastante e deixá-lo sofrer agora no final de vida, não é certo. Amanhã vai ser um dia duro para ela.

 

22/05/2006

Após nossas obrigações matinais, fomos à cidade para conhecer melhor a praia dos Anjos e ir ao mercado. Na praia vimos alguns pescadores preparando uma rede de pesca para jogar de novo. Havia muitas gaivotas no local pois, na primeira passagem de rede, eles jogaram peixes para elas. As crianças ficaram tentando jogar os peixes vivos na água e os mortos para as gaivotas (às vezes acontecia o contrário). Fomos ao mercado e comprei mais algumas coisas que precisava e, na volta, compramos agulha para fazer rede, pois as crianças tinham uma aula prometida para mais tarde. Retornamos ao barco, levantamos âncora e fomos para a ilha de Cabo Frio conhecer a lindíssima praia do Farol, passando pelo caminho ao lado dos bancos de areia bem junto à costa da ilha. Muitos peixes pulavam ao longo do caminho. Ancoramos ao lado da base da Marinha e, conseguida a autorização para descer via rádio, descemos à praia. Ela é maravilhosa! Muitas dunas, areia branca e solta. No meio dela há “pedras” que foram formadas por areia que se uniu com outras substâncias. A vista de lá é linda! Retornamos ao barco e fizemos o caminho de volta. As crianças estudaram e eu atualizei os diários na internet para estarmos livres mais tarde. Recebemos a visita do Claudinei, que conheceu nosso barco e assinou o livro de visitas. Fomos então jantar, pois tinha prometido levá-los à uma pizzaria. Matamos a saudade de pizza e batemos um bom papo com as funcionárias de lá. O pessoal todo por aqui é muito simpático e sempre estão querendo ajudar. Entre eles, especialmente o Paulo, o Edgar da lancha LEG 10 da Marinha e o Átila, todos gentilíssimos. Conversando com as crianças, chegamos à conclusão que este é um dos melhores lugares que paramos até agora. No retorno ao píer, fomos ao Tikii para a aula de confecção de rede, promovida pelo Edélcio. Aproveitei e levei o livro para ele deixar uma mensagem. Após muito papo, muitas estórias e uma ótima aula, fomos dormir tarde caindo de sono.

 

23/05/2006

Acordamos cedo para fazer nossas obrigações e ir ao Museu Oceanográfico da Marinha. Descemos em terra e o Edgar nos acompanhou até o museu. Uma pena é que estava fechado para limpeza, pois amanhã estarão recebendo a visita do prefeito. Vamos tentar de novo no final de semana. Retornamos ao barco, demos “tchau” para o Edélcio e para o Claudinei e levantamos âncora em direção à cidade de Cabo Frio. Na saída de Arraial, ficamos tristes pois vimos uma tartaruga morta boiando com o casco para baixo. O vento sudoeste nos ajudava na direção desejada e demos uma bela velejada até Cabo Frio. Ao longe já fomos distinguindo os prédios e as dunas de areia. A sub-sede do ICRJ fica logo depois da entrada da barra a esquerda. O canal de entrada é muito estreito e deve-se entrar bem pelo meio e, de preferência com maré alta. Logo que se passa o canal, deve-se virar tudo à esquerda, pois logo depois da entrada do canal há um grande banco de areia. Sem saber bem como entrar, fomos para cima do banco, mas como planejei a chegada para a maré alta, não encalhamos. Logo nos acenavam da linda sub-sede do ICRJ e nos davam o cabo de poita para amarrarmos a proa do barco e demos ré para amarrarmos a popa ao píer. O lugar é maravilhoso! A água é transparente e víamos todo o fundo. Vários mergulhadores faziam caça-submarina e me disseram que há grandes garoupas no local. Vimos um baiacu de espinho enorme, com dois ou três quilos, de cima do píer, ao lado do barco. Arrumamos as coisas, demos entrada do barco no clube (todos da sub-sede foram muito simpáticos e atenciosos conosco), almoçamos e saímos para passear. Vimos marcos históricos ao lado do clube e o local por onde entramos. Visualizei bem o canal de entrada (passa-se a estreita passagem bem pelo meio e depois guina-se tudo à esquerda – estou repetindo de propósito!) desse local e uma chuva fria com vento forte nos obrigou a retornar logo ao clube. Ficamos no barco escrevendo, estudando e respondendo e-mail’s. Fizemos um lanche, tive uma aula de tecer redes com o Jonas e fiz uma rede para legumes para o barco. Dormimos com o vento soprando forte e a chuva ainda caindo.

 

24/05/2006

O tempo amanheceu nublado, mas ao menos a chuva parou. Fizemos rapidamente nossas coisas para poder ir passear. Um pouco antes de sairmos, o Jonas veio me falar que o “cara de um barco amarelo” estava querendo falar comigo e me chamou pelo nome. Quando chegamos no dia anterior, um lindo veleirinho monocasco amarelo de nome “Estrela D’Alva” e com vela de hobbie cat passeava fora do canal e depois entrou no canal, permanecendo ancorado próximo do banco de areia. Uma bandeira brasileira no tope e uma bandeira suíça de cortesia tremulavam no veleiro. A Carol perguntou o porque da bandeira suíça e eu disse que provavelmente o barco era de algum suíço. Quem me chamava era exatamente o dono do barco e logo o reconheci: ele, de nome Fernando, e uma amiga suíça fizeram um charter comigo em Ilhabela e lembro de ter-lhes contado os meus planos de viagem. Ele aproximou o barco, me cumprimentou por estar realizando meu sonho e disse estar bem. Perguntei da amiga suíça e ele disse que ela está ótima e que a bandeira de cortesia é uma homenagem a ela. Ele estava fazendo uma aventura pessoal: passar sete dias passeando com o barco na região, sem sair dele. É muita coincidência ter-nos encontrado aqui! Não pudemos falar muito, mas marcamos de nos encontrar depois. Saímos para passear e fomos andando pela linda praia do Forte (tentamos visitar o lindo Forte São Mateus, mas a maré muito alta não deixou que entrássemos) e caminhamos até chegar a algumas dunas. A praia é muito bonita e com muitos prédios de até cinco andares na orla. Caminhamos um pouquinho por um lindo calçadão com alguns barzinhos e restaurantes e vimos a Secretaria de Turismo. Fomos até lá e ganhamos mapas da cidade e um lindo livro sobre Cabo Frio. Foram todos muito atenciosos conosco e a pessoa que nos recebeu contou ser amigo de um velejador de quem eu já li alguns artigos em revistas e que mora em Cabo Frio. Mapa na mão, resolvemos ir até o centro da cidade conhecer alguns lugares. Vimos o lindo Convento Nossa Senhora dos Anjos e aproveitamos para conhecer a sua exposição de arte sacra. Depois fomos ao Mirante do Morro da Guia, onde se visualiza toda a cidade em toda a volta. Lá havia uma pequena capela fechada e, quando estávamos quase, apareceu um guarda para abri-la. Olhamos a capela e quando estávamos saindo, o Edson Cruz (esse era o nome do guarda) começou a conversar e dar uma verdadeira aula de história. Extremamente simpático e conversador, este carioca que adotou Cabo Frio como cidade do coração transformou a chata função de tomar conta da Capela da Nossa Senhora da Guia e, ao mesmo tempo servir de ponte de rádio da polícia local para a qual trabalha, em uma mistura de professor de história e guia turístico. Nos mostrou novamente a capela, contando várias coisas interessantes sobre ela e nos mostrou pedras esculpidas no local, que foram usadas pelos índios como cadeira e para afiar instrumentos. Após conversar muito conosco e dar verdadeiras aulas de história do Brasil e história de Cabo Frio, ele contou um pouco dele mesmo e da importância do estudo que está fazendo agora “depois de velho”. Enquanto descíamos o morro, fui explicando para as crianças a aula de vida que tivemos indiretamente: uma pessoa que tinha tudo para ficar acomodada fazendo a sua função, extrapola e faz da sua função objeto de prazer próprio ensinando outros algo que gosta e a importância do estudo e absorção de conhecimento em qualquer idade. De lá fomos procurar uma loja de armarinho, onde a Carol comprou algumas coisas para fazer colares. A fome bateu e retornamos a um lugar que vimos no caminho: a Casa da Tapioca. Adoramos as tapiocas e as crianças comeram super bem (da Bahia para cima vai ser uma festa!). Passamos em um mercado e compramos algumas coisas e, na volta, passamos na casa Charitas. Edson havia nos contado a estória da casa, que abrigava crianças abandonada e tinha uma “roda”. Mães que queriam abandonar uma criança, abriam uma porta externa à casa, colocavam a criança na roda, giravam a roda que levava a criança voltada para dentro da casa e tocava uma campainha. Dessa forma, a mãe não se identificava e ninguém ficava sabendo quem eram os pais daquela criança indesejada, na maioria das vezes de pai branco e mãe preta escrava. Retornamos ao clube e ao barco, onde as crianças estudaram e fomos dormir cedo, cansados do passeio de uns 5 quilômetros a pé.